sábado, junho 04, 2011

O valor de uma palestra

Parto sempre de um princípio: não acho caro, o que eu não sei fazer. Serviços de mecânico, eletricista,  bombeiro, e tantos outros, estão fora da minha competência. Por isso, respeito os valores cobrados por esses profissionais. É claro que eu posso – e devo – negociar o valor solicitado. Mas dentro de um padrão que não desqualifique o trabalho. Vamos a um “por exemplo”: Se alguém pedir 50 reais por um serviço, eu posso solicitar um desconto de 10%. Por que não? O que eu não devo é pedir, pelo mesmo trabalho, um desconto de 50%. Agir assim é desrespeitar a qualificação do outro.
Falei nesses serviços básicos porque são normalmente os que têm os seus valores mais questionados. Talvez por serem exercidos, em grande parte,  por pessoas  com baixa escolaridade formal. Mas há serviços, realizados por profissionais de nível superior, que as pessoas pagam, sem fazer cara feia. Outro “por exemplo”: serviços médicos. Você vai ao consultório, que já tem estabelecido o valor da consulta, e  não há o que discutir. Assim também se dá com os serviços de advocacia, arquitetura e outros mais, cujos valores não são contestados.
Mas, se há uma atividade realizada geralmente por profissionais de nível superior, e que tem o seu valor questionado, é a de palestrante. Talvez a explicação esteja no fato da pessoa ser vista como um professor, e aí se leva para esse cálculo toda a carga de preconceito e desvalorização que é atribuída à categoria.
É comum se ouvir comentários de pessoas escandalizadas, ao saberem que alguém cobra 1.500 reais por uma palestra de duas horas. O espanto é mais ou menos nesse tom: “Mil e quinhentos reais por apenas duas horas? É muito caro!...”
Veja que ninguém questiona pagar 500 reais por uma consulta médica que, quando muito,  dura 15 minutos. Ou outros tantos valores pela planta de uma edificação ou pela defesa de uma causa na justiça. Mas foi algo ligado ao magistério, todo mundo se acha no direito de questionar, pejorativamente, o seu valor.
Para esses questionamentos, a resposta é: uma palestra de duas horas, para chegar ao ponto de ser ministrada,  exige muitos anos de estudos anteriores. E pego o meu caso: As palestras que hoje eu realizo, resultam de 55 anos de estudos. Trocando em miúdos: a minha preparação para a tal palestra de 2 horas, começou quando eu fui pela primeira vez à escola, aos 5 anos de idade. Conclui, o que se chamava à época,  curso primário,  ginásio,  científico, fiz três faculdades, duas especializações,  mestrado e diversos outros cursos e palestras que, juntos, forneceram os conhecimentos que me permitem ministrar a tal palestra de duas horas. Acrescente-se a isso o contato com a literatura especializada, revistas, jornais, sites na internet, que fazem parte da rotina de preparação, pela qual passam os milhares de palestrantes pelo , mundo a fora.
Mais um detalhe: a minha área é empreendedorismo e gestão de pessoas. Se me convidam para falar sobre engenharia aeroespacial, é claro que eu não irei, pois não tenho competência para isso. Mas, quem é dessa área, com facilidade dará cabo dessa tarefa. Ou seja, os 30, 40 ou 50 anos de estudos lhe dão essa condição.
Portanto, antes de achar caro o serviço cobrado pelo outro, ou tentar desqualificá-lo propondo valores aviltantes ao seu trabalho, pense nessas variáveis que levam à determinação do seu preço. Ou então, peça uma cortesia. Talvez o palestrante tope.

Autor: Fernando Leal, mestre em educação, palestrante e professor universitário. fleal13@hotmail.com

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